Angeli |
FECHADO PARA BALANÇO!
Angeli |
foto: Márcio Jorge |
ELO
Em vaga manhã toada,
A vista nua redescobre
O azul do céu de estrela única,
Brilhando comovente
No desejo da carícia plena.
Talhar a forma perfeita
Faz palpitar o menino,
Aflito,
Pela delicada ponta de estrela
Nos seus braços franzinos,
A pedir um afago suave
Envolto em rosa
Em canto que ecoa distante
No orgasmo da noite bela.
Alteiam os espasmos de êxtase
E as minguas de ciúme atropelam o menino
Displicente sobre a areia fina,
Adormece repleto
No seio ímpar.
Espuma morna do corpo infinito
Braços do mar a trazer o destino
Em verso, em prosa, em canção
No risco da débil tormenta
Sem sepultar o coração.
Abre-se a ternura
Em pétalas túrgidas
Soltas pelo ar de paixão
Profundo extravio,
Entornando o orvalho atrevido
Aonde caminha o amante menino
Sob o lampejo da estrela única.
tela de Giuseppe Santomaso
SEGUIMENTO
Aquela torre,
Onde escondo as incertezas do meu tempo
É alta e breve
Para todas as angústias presentes
Escalar solitário será a resposta
Quando apenas o poente parecer claro.
Guia-me o risco de luz
Que aponta para corda
Esmiuçada e curta,
Tenra para alavancar um corpo cansado
Sem gozo nem agonia.
Leva-me a um lugar de poesia
E que a brasa da aurora vinda
Transforme em cinzas
O deserto do coração.
Traga-me o palco das alegrias
Com palavras poucas
Em campo de descobertas
Vestido de cores
Anoitecido de contento.
ESTRADO
Emil Nolde
Quem dera,
Fosse verdade a quimera!
A ruga que franze a testa,
esmoreceria breve.
No estrado erguido pelo descontento
Segue a vida mal servida
Caminho de chuvas e ventos
Desfazendo a longa marcha
do pensamento.
No estrado erguido pelo descontento
Segue a vida dividida
E o tempo tirano a perseguir
No corpo a corpo dos dias
O amor resistente,
Que resiste,
em fortaleza.
Quem dera,
Fosse verdade a quimera!
Nada desbotaria o lúdico
E o tempo tirano
Não resgataria o medo
de um final verecundo.
OS BARCOS
Na sóbria manhã que nasce
Oscilam as pálpebras alertas...
Os barcos,
Dentro dos meus olhos de náufrago
Também oscilam,
no espelho de águas infinitas.
A esmo conduzo o meu corpo
Ao porto clemente:
Oh, navegantes barcos perdidos!
Deslizam pelo mar revolto
Esgotando minha sede oscilante,
Como pálpebras,
Oscilante,
Como os barcos!
Ferveu a inspiração,
Surgida do cálido amor desnudo
E as palavras escorrem sobre o papel quente
de tanto amor.
Os versos espalham o sentimento exalado
Então, o que ainda restou?
Restou o seu poder absoluto
Que amalgama corpos afins
Fenecendo a certeza equívoca
De que não há mais tempo
para amar.
"dedicado a todos que vivem ou já viveram um grande amor."