22 de ago. de 2008


POR UM MOMENTO

Quanto do mar já servi,
Para abrandar o que agora aparece como dor?
Mas, quanto da rosa levarei,
Para desfazer a enorme intenção de chorar?


Estar preso à vida como numa jaula
E perder o foco das reentrâncias

Faz do silêncio, uma longa trovoada...
Beira de mar, peixes de cor

Leito de rio, brilho de barbatanas
Água, água, água...

Pé de avenca na janela,
Pé de tudo no pomar
Bicho no colo, bicho no pé
Terra, terra, terra...

Quanto desse mundo ganharei,
Para desafogar quem de dentro berra?
Um pássaro sem gaiola,
Um soneto de Vinícius,
Uma espada de Ogum,
Um amor no coração.

Entre canções de ninar,
A boca amarga, CALA-SE!


texto: Márcio Jorge
ilustração: Pablo Picasso


2 de ago. de 2008

TRANSFORMAÇÃO

foto: Pierre Verger

Uma porta se fecha, enquanto uma janela se abre à sombra de um novo cometa. O sentimento que devora é o alicerce de almas. Como se não bastasse a feição súplica dos heróis, agora toda conduta se justifica perante a dissolução do imperioso planeta. Não adianta o grito mouco, a carabina apontada para os próprios miolos, o pugilato na vitrine constitui o desfecho. Quem irá nos redimir? O verme rasteja intermitente pelo deserto, a areia movediça atiça, desconstitui o verme, o vírus, a moléstia... É tempo de magos e estrelas, da vida mística, sem complemento.

Márcio Jorge