29 de mai. de 2010

Camille Pissaro

PAISAGEM INVENTADA

Luz de candeia acendeu
No mato arrepio de vento
E a voz do sossego sussurrou no ouvido-martelo
O rouxinol nem sequer apareceu
Voou sorrateiro,
Apaziguando quase tudo
Que pudesse estar em pranto
Leve, muito leve
Foi-se o pensamento
Numa folha amarelada
Em contraste com o solo enegrecido
No cume de um outeiro
Comovo-me com a água
Que escorre no leito da paisagem inventada
Quem dera ser o pó do caminho
Figura cravada no barro
De manhãzinha
Entre raios de sol
E passos de formiguinhas
Não sei o que penso
Deito na relva
E viro pedra novamente.

3 de mai. de 2010

foto: Márcio Jorge


COMPOSIÇÃO

Quero estar
No imaginável limite
Entre o céu e o mar,
Tragando o mistério
E o costume de segui-lo.

Quero sentir
De cada verso escrito
Um devasso mundo contido,
Atravessando o avesso do verso
Em rimas sólidas, sem disfarce!

Enquanto confesso,
Viajo calmamente em cidades caóticas
De fendas profundas e deuses eternos.

Quero querer
De vez em quando o acaso
Abusar do gozo insano
Em plena tarde de outono
Ou em plena tarde qualquer.

É preciso reinventar o sorriso
E comemorar a madrugada vazia
Como são aqueles
Que fazem do seu dia
A promessa de ontem.

Quero colher
Os pedaços que me faltam
Absorvendo o puro reflexo
Mesmo que pareça complexo
Tragar o próprio mistério.

É preciso continuar querendo
Flores de todos os jardins
Espatifando os imundos espinhos
Esses daninhos,
Fel do clã
que se compôs.