7 de out. de 2015

  ESCRITO

foto: Márcio Jorge

















Estava escrito na parede de casa
Não ter os olhos vendados, nem a face nua desbotada
Perto de tudo e longe da essência sonhada.

O gesso do braço quebrado
A falta de ar, o excesso de gozo
A ponta de lança no pescoço.

O espaço obstruído pelo vazio      
A caça escondida na mata                      
O medo afastando o cio.

Fugir, fincar espada, surgir do nada
Ser bicho maleável, contornar o tronco
Balançar para todos os lados.

Forçar a porta emperrada
Romper a janela travada
Entrar na história inventada.

Aperto de abraço, beijo de mulher amada
Sapato fora do cadarço
Golpe de cilada.

Mundo que se dissolve
Cordilheira que não se escala
Sabor de boca em brasa.

Fingir que o silêncio é paulada
Matar a mosca a facada
Roubar as penas das asas.

Reta no meio da curva
Barriga no meio do furo
Rabo de foguete no escuro.

Estava escrito na parede de casa
Ninguém apagou com a borracha
O dom que nem sempre se acha.