18 de jul. de 2022

POEMA PARA UMA NOITE DE INVERNO

 

I

 

Era uma noite de inverno

rua de mão única

e o pensamento também era único:

procurar a pista certa

para o desfecho final!

 

II

 

Na verdade

queria encontrá-la de novo

saber como apareceu e fugiu

em meio aos destroços que havia lhe deixado

nada tinha nas mãos

nem sabia o que iria dizer

caso a encontrasse naquela rua novamente.

 

III

 

Já era tarde para manter a esperança

mas o tempo pouco importava

na história que se construía

então, apurou a mirada

e finalmente sentiu um vulto

que passava por ali.

 

IV

 

O que iria fazer afinal

se não tinha sequer palavras para explicar

o quanto desejava aquele reencontro?

 

V

 

Foi se aproximando devagar

Assustou com os ratos fuçando sacos de lixo

suou frio, as pernas tremeram

mas na hora derradeira

lembrou que sabia de cor

todos os versos de um poema de Leminski.  



PASSANDO O TEMPO

 

Essa ideia de escrever poemas

me faz perder (ou ganhar)

todas as horas do dia

todos os dias da semana

quiçá todas as semanas do mês

 

               mas, em que ano estamos?  


16 de jul. de 2022

 HOMOTIPIA

 

Despois de me esquivar

das armadilhas dos dias turbulentos

vi a ventania que trago nas mãos

ocultar-se no bolso da frente como brisa

mesmo com ameaça de temporais

criei a soberba do disfarce

e como bicho-pau

viro graveto também.


REVELAÇÃO

 

Ainda sim

vencemos o soluço do dia

as sirenes estridentes

os carros estremecendo o asfalto

 

Ainda sim

vencemos a falta de tempo

de espaço

de convencimento

 

Ainda sim

vencemos o murmúrio da noite

a bomba de hidrogênio

os homens construindo o medo

 

Ainda sim

vencemos a falta de saída

de pegadas

de estradas

 

Ainda sim

        vencemos


PROCURA

 

Em ti,

vi você e eu

 

Em mim,

vi você e eu

 

Em nós,

onde

te vi?