26 de out. de 2010



 Já começou o 3º Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (FIAC - BA), que este ano apresenta mais de vinte espetáculos, vindos de cinco países,  distribuídos em diversos teatros da capital baiana e também em espaços públicos e alternativos. Entre os dias 23 e 30 de outubro de 2010, além de assistir às montagens de variados gêneros, o público de Salvador poderá participar também de palestras, bate-papos, oficinas e encontros com profissionais das artes cênicas do cenário nacional e internacional. Entre no site oficial http://www.fiacbahia.com.br/ e confira a programação completa do festival.

15 de ago. de 2010

PAPO DE CINEMA

Era década de 60 e o povo brasileiro vivia o clima hostil da ditadura militar, que em muitas vezes, limitou com truculência as produções culturais no Brasil. Foi nesse instante de luta ideológica e efervescência política que o país conheceu o auge da era dos festivais de música e apresentou alguns dos artistas considerados de fundamental importância para a formação da Música Popular Brasileira.

O documentário "Uma Noite em 67", dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, mostra uma disputa empolgante entre novos compositores e intérpretes da MPB que provocou emoções fortes numa platéia eufórica, preparada para vaiar ou aplaudir os artistas com a mesma intensidade. O festival de 1967 revelou canções que se tornaram históricas na galeria dos festivais organizados pela TV Record em São Paulo. O vencedor daquela tão esperada final foi Edu Lobo com "Ponteio". Em segundo lugar ficou a canção "Domingo no Parque", interpretada por Gilberto Gil e com a participação especialíssima do grupo Os Mutantes. Chico Buarque de Hollanda foi acompanhado pelos músicos do MPB 4 na interpretação da música "Roda Viva", que conquistou o terceiro lugar. Caetano Veloso cantando "Alegria, Alegria" provocou vaias do público, mas antes do final de sua apresentação, o baiano reverteu a situação desfavorável, conseguindo a quarta colocação da noite e o reconhecimento efusivo da platéia. Roberto Carlos também participou da festa e chegou ao quinto lugar com o samba "Maria, Carnaval e Cinzas". Naquele ambiente de muita competição, o drama maior foi vivido pelo cantor Sérgio Ricardo que marcou o seu destino no festival ao destruir o violão e atirá-lo ao público depois de ser insistentemente vaiado pela canção "Beto Bom de Bola".

O filme alterna imagens da época, inclusive mostrando as apresentações principais na íntegra, com depoimentos inéditos dos intérpretes e de algumas testemunhas importantes como o jornalista Sérgio Cabral (um dos jurados) e os produtores culturais Solano Ribeiro, Zuza Homem de Melo e Nélson Mota. Aquele momento inesquecível para o cenário musical brasileiro proporcionou uma verdadeira revolução cultural no final dos anos 60, que se propagou com o fortalecimento da MPB, o surgimento da Tropicália, as inclusões da música pop internacional e a explosão das diversas manifestações artísticas regionais. Assistir "Uma Noite em 67" é uma bela recordação para quem viveu aqueles momentos inestimáveis e um aprendizado valioso para as novas gerações, pois mais do que um registro musical, trata-se de uma viagem histórica, ideológica, social e política de uma época de grande relevância para o nosso país.
texto: Márcio Jorge.
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Ficha Técnica
Título: Uma Noite em 67
Ano: 2009
País: Brasil
Língua: Português
Gênero: Documentário
Direção e Roteiro: Renato Terra e Ricardo Calil
Elenco: Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo
Duração: 105 min.
Censura: Livre


13 de jul. de 2010

Paul Klee


AFINIDADES

Dentro de cada louco humano tolo
Habita não somente um âmago
Transparecido pela retina ofuscante
De um olhar
Há no disparar de cada coração
Um céu nublado,
Uma ponte entre a luz do querer
E o desbotar do adormecido sonho.

Dentro de cada louco humano tolo
Lembraças de ontem
Em caminhos percorridos com ternura,
Laçados pela neblina que envolve
Afinidades tantas!
Entre loucos transeuntes
Na solidão de mais um dia
Entre cegos humanos
(não reconhecem o espelho partido)
E entre tolos inocentes
que de perto vivem.

29 de mai. de 2010

Camille Pissaro

PAISAGEM INVENTADA

Luz de candeia acendeu
No mato arrepio de vento
E a voz do sossego sussurrou no ouvido-martelo
O rouxinol nem sequer apareceu
Voou sorrateiro,
Apaziguando quase tudo
Que pudesse estar em pranto
Leve, muito leve
Foi-se o pensamento
Numa folha amarelada
Em contraste com o solo enegrecido
No cume de um outeiro
Comovo-me com a água
Que escorre no leito da paisagem inventada
Quem dera ser o pó do caminho
Figura cravada no barro
De manhãzinha
Entre raios de sol
E passos de formiguinhas
Não sei o que penso
Deito na relva
E viro pedra novamente.

3 de mai. de 2010

foto: Márcio Jorge


COMPOSIÇÃO

Quero estar
No imaginável limite
Entre o céu e o mar,
Tragando o mistério
E o costume de segui-lo.

Quero sentir
De cada verso escrito
Um devasso mundo contido,
Atravessando o avesso do verso
Em rimas sólidas, sem disfarce!

Enquanto confesso,
Viajo calmamente em cidades caóticas
De fendas profundas e deuses eternos.

Quero querer
De vez em quando o acaso
Abusar do gozo insano
Em plena tarde de outono
Ou em plena tarde qualquer.

É preciso reinventar o sorriso
E comemorar a madrugada vazia
Como são aqueles
Que fazem do seu dia
A promessa de ontem.

Quero colher
Os pedaços que me faltam
Absorvendo o puro reflexo
Mesmo que pareça complexo
Tragar o próprio mistério.

É preciso continuar querendo
Flores de todos os jardins
Espatifando os imundos espinhos
Esses daninhos,
Fel do clã
que se compôs.

29 de mar. de 2010

Maurice de Vlaminck



PASSOS NA CONTRAMÃO

... E de leve perdi o riso
Beijei a flor
Ao sentir a brisa
Afinal,
De quem será a brisa?
Tal como a nascente
Parte a sombra de quem não mais existe.

O tempo e o homem
Comovem,
Suas queixas desvalidas
São tão novas quanto à bruta pedra polida.

Dentro da gruta infinita
Escondo esta alma de bardo
Ou apenas um semblante estarrecido,
Ingênuo
E por que não alegre dizer?
Sério brinquedo
Acima de um abismo.

9 de mar. de 2010

André Derain






















VÍCIO DI VERSOS

Vento sopra
Pedra rola
Ferro feri
Aqui
E ali.

Chuva cai
Traz o cheiro
Cheiro de pólvora
Cheiro de terra molhada,
Um cheiro outro qualquer.

Pena voa,
Que pena!
Bate no muro
Vira amargura
Aqui
E ali.

O lírio canta
A lira toca
Trova bonita
"Vício di versos"
delírio, delírio...

Vida passa
Cheia
Ou vazia
Prato raso
Raso dia
Luz apaga
Vive o breu
E sobre a mesa escura
Um papel rabiscado
Com palavras vadias:

Sonho,

Luta,

Amor,

Armadilha,

Tesouro,

Jardim,

Semente,

Soneto,

Promessa,

Corrente,

Beco,

Berro,

Alma,

Tudo.

Assim,
Ainda escreve
O poeta.

25 de jan. de 2010

Piet Mondrian
















NOSTALGIA VERDE

Bela como era
Não mais transita
Onde habita
Asas abertas,
Coloridas,
Expostas
E tantas vezes despidas
Fechadas na liberdade roubada
Pelo rústico instinto
Que penetra,
Tritura,
Afoga...

Lágrimas escorridas
Sangue na seiva
Nos velhos troncos
Velhas testemunhas...

Das queimadas,
Só se for a folha seca
Esturricada,
Atirada ao solo ardente
Seca,
Pelo sol seco.

Das caçadas,
Só se for a natural seleção
Naturalmente pura,
Discreta parte do reino ferido
Mendigando socorro,
Rastejando pelo que resta.

E o verde virou nostalgia
Como se fosse dezembro
Último dia,
Último sonho,
Fim de festa.