2 de nov. de 2008

Salvador Dali

HORAS CERTAS

Visito os fatos aqui presentes
Solto, ainda estou para gritar
Buscar o caminho revolto
Decifra as coisas guardadas
no paiol do tempo de guerra santa.

Da varanda, visito as horas que precedem
acontecimentos avulsos:


A escuridão e o gozo,
O amor degustado com requinte,
Luas, constelações, delíquios e um céu de poesia,
A selva e a barbárie,
O jornal pingando sangue no corredor de casa,
A correspondência violada,
O cigarro, a cigarra, os arquivos empoeirados,
A oferta da mão em falta!

Continua o tempo de sentimentos falecidos,
A história conduzindo ao crime,
Muros de concreto separando os líquens,
Perdeu-se a simbiose?
São horas certas para desaguar o rio sujo,
o caldo sujo, a fonte indesejada.


Visito a cidade ao som das melodias:
Assovios de balas,
Cânticos de fiéis,
Cantigas de roda,
Funks de guetos,
Reggaes de Marley,
Choros de fome,
Sinfonias de Bach,
Batuques, batidas, bandolins...

Se é certo,
Ou mero desatino
Espalho-me pela madrugada
Ser inocente,
É viver sem destino.

Márcio Jorge

2 comentários:

Amanda Julieta disse...

"Ser inocente é viver sem destino".
Estava saudosa de passear pelas suas nuvens e pausar a minha vida com os seus versos...

Linda semana, Márcio!
Beijos

Anônimo disse...

Tão atual esse poema. "Solto ainda estou para gritar". Quem escutaria?