30 de mai. de 2008

obra de Henri Matisse

Evidência

Não afundes a viga,
O mago,
A liga que te unes à orquídea
Se é mistério o que te afronta,
Pronto!
Eis aí um labirinto
Haverá dias, noites
e um tanto de minutos
A raiz, então, procuras
Abre-te a porta.

Márcio Jorge

UM DIA, UM SONHO...
para Flavinha Oliveira










Era como se não fosse,
A expressão nítida da condição humana
Do jeito que entrara
Parecia, sua presença, infinita e traiçoeira
Como naja,
Preparando o bote

Como grão,
Compondo um castelo de areia.


Era como se fosse,

A forma exata do delírio
Gravura essencial
Vista de aquarela
Da raiz ao semblante de neve.

Era como se fosse,
A estrada de volta
O contorno secreto da margem inexistente


Eu,
Festejara feliz a descoberta
Marchando firme e sem rumo
Contemplando até o fim do dia,
um SONHO.



texto e fotos: Márcio Jorge



29 de mai. de 2008


A MARGEM DA SOLIDÃO

Pobre casulo disforme
Moribundo, faz-se do fio
que tece a solidão

Pobre noite sem luz
Lânguida, faz-se da sombra
que contorna a solidão

Pobre solidão ofegante
Mórbida, desfaz-se num confortável dia
Sem dor.


Márcio Jorge

obra de Paul Cézanne


28 de mai. de 2008

Na Ponta da Língua

ÍNFIMA ODE AO POETA ESSENCIAL
para Manoel de Barros
Mergulho profundo no raso do fundo
No fundo, no fundo
As insignificâncias levantadas aqui,
Não estão no fundo.
O canto das cigarras está em algum lugar,

No raso?
No fundo?


A goiaba na beira do rio
Faz voar as mariposas,

O raio do sol nascente
Faz chegar os passarinhos,

A formiga no meio do tronco
Faz a paisagem completa,

A falta de assunto
Faz o poeta acordar de sua inexistência.

Como é bom deitar na rede,
Suspirar de preguiça
Ser a grandeza da poesia ínfima
No fundo, no fundo
Abracemos o mundo!

Márcio Jorge


foto: Márcio Jorge

27 de mai. de 2008




O BREJO

Tudo foi para o brejo!
E agora?
Rales, barangas, barões,
mendigos, patrícias, maurícios,
Napoleões...

A trêmula flâmula
Esquecida no mastro
É farrapo,
imperceptível.

Tudo foi para o brejo!
E agora?
Famintos, magos, reis,
telúricas, carmelitas, canálias,
Xiitas...

A lama na cama
Nunca foi tão comum
O trono vazio
Ah! Este sim,
perceptível.

Tudo foi para o brejo!
E agora?
Espertos, casados, solteiros,
sortudos, otários, gatunos,
Celibatários...

A lata no meio da rua
O cisco no olho
O alvo incerto
e o lixo continua na lata.

Tudo foi para o brejo!
E agora?
Poetas, pivetes, palhaços,
vassalos, casais, bichas,
Comensais...

O ruído devora a melodia
Esta, sem alforria
É litígio,
inconcebível.

Tudo foi para o brejo,
Até a vaca.

26 de mai. de 2008



CADEIRA DE BALANÇO

E do toque
Fez-se o movimento
E
da luz
A clareza da sombra
Entre versos e palavras
Balança a cadeira do tempo...

Márcio Jorge

TRIBOS

Aqui,
Como lá
As mínguas restantes são iguais

Há tempo perambulam pelos escombros
E não ouvem o ruído discreto
Da última lágrima cadente,
Roubada
E escondida sob a pétala mordida...

Márcio Jorge