25 de dez. de 2020

  UM INSTANTE


 

 

 

 

 

 

 

Sou das ondas

Que atravessam caminhos de areia

Sou do vento

Que chega devagarinho   

Só para refrescar o tempo

Sou momento               

Um instante que se condensa agora

Como gota de oceano

Fazendo-se nuvem.

...

ilustração: Theo Van Rysselberghe

 

10 de dez. de 2020

CENTENÁRIO DE CLARICE LISPECTOR



 

A literatura brasileira é formada por grandes autores e autoras que compuseram as diversas escolas literárias ao longo do tempo. Do movimento modernista brasileiro, Clarice Lispector foi uma notável representante, sendo a brasileira mais traduzida no mundo e sua obra publicada em 40 países. Na verdade, a romancista, contista, cronista, tradutora e jornalista (que sempre se considerou brasileira) nasceu na Ucrânia em 10 de dezembro de 1920, mas chegou ao Brasil com a família aos dois meses de idade.

Na semana em que se comemora o centenário da genial escritora, lembro quando conheci, ainda adolescente, o precioso universo lispectoriano através do livro “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, oferecido por um grande amigo que já era apaixonado pela autora. O mergulho intenso nos conflitos psicológicos das personagens Lóri e Ulisses, trouxe-me a literatura intimista, que reflete profundamente as angustias da existência humana. Foi uma descoberta impactante, que me fez explorar ainda mais o mundo literário de Clarice, com a leitura de tantos livros maravilhosos como “A Hora da Estrela”, “Água Viva”, “Laços de Família”, “Felicidade Clandestina” e “Perto de um Coração Selvagem”.

A literatura de Clarice é contundente, atemporal e essencial, uma transformação contínua para quem segue o caminho de dentro e percebe o quanto ainda se tem a descobrir. Nos próximos séculos, continuaremos perto do coração selvagem da maior escritora brasileira de todos os tempos.  

Parabéns Querida Clarice!

 

5 de dez. de 2020


A Festa Literária Internacional do Pelourinho – FLIPELÔ acontece de 09 a 13 de dezembro de 2020, com a realização de mesas de debate, saraus, espetáculos lítero-musicais, contação de histórias e oficinas. O evento será totalmente online, sendo transmitido pelo canal www.youtube.com/flipelo. Vale a pena conferir a edição especial dessa grande festa literária de Salvador!  

 

29 de ago. de 2020

 QUANDO UM POEMA NASCE



                                                                          

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        

       

O poema emerge muitas vezes

Do olhar que acompanha o voo

De um singelo passarinho

Mesmo sem saber

Aonde aquele pequenino ser

De tanto encantamento irá pousar

Pode surgir também do nada       

Da total falta de assunto

Dos temas encobertos de agonia

Das horas de amor e de alegria

Ou da tal vontade de se ver nas palavras

Ou de se esconder no meio delas  

Sem pudor algum

 

Ah, o poema pode estar na lua

De qualquer noite

No sol

De qualquer dia

Na chuva

Na rua

Na cama

Hum...

O poema pode estar sim entre os lençóis

Da forma mais depravada possível

Por que não?  

 

Quando um poema nasce      

Não há festa de comemoração

Não há parabéns

Nem tapinha nas costas

Há silêncios...

É como se algo misterioso fosse desvendado

Mesmo deixando muitas dúvidas

Pairando no ar

Ou nos versos de outro poema

Que já começa a se formar

De novo???

 

Assim a história continua    

Não tem discussão  

O poema impõe sua presença

Desconstruindo a zona de conforto

Adentrando as profundezas do íntimo 

Com o álibi mais que perfeito

Achou pesado?                  

Nem adianta questionar                

Que o poema não precisa de argumentos

Só de sentimentos     

Não importa qual será a personagem

Nem se fará sentido no final  

 

Se um poema deitar na sua rede

Não se apavore

Acorde, respire   

Abra bem os olhos

E receba o que te foi ofertado

Deixe chegar lá no fundo

Mas se preferir pousar lá fora

Acomode-o do mesmo jeito 

Depois de uma boa dose de carinho

Escute como se fosse música

Distribua como se fosse refeição 

Cumpra como se fosse promessa

Reze como se fosse oração.    

 

 ...

Ilustração: Eduardo Kingman

 

5 de jun. de 2020

MOTIM


Mova-se
no tempo que se move
encolha-se
no tempo que se move
veja-se
no tempo que se move
seja-se
no tempo que se move
cale-se
grite-se
abale-se
Faça parar o tempo.

 ...

 Ilustração: Wilfredo Lam
 
  

25 de mai. de 2020

GUARDE


Não pode sair agora?

Guarde o sol que te ilumina

Em cada passo que te leva ao mar   

 

Não pode sair agora?

Guarde o sorriso da lua que te governa

Nesses tempos tão difíceis

 

Não pode sair agora?

Guarde a terra

Onde a árvore se acomoda tranquila,

A chuva se infiltra devagarinho

E a raiz se espalha

Para esconder seus desejos

Mais profundos...  

 

Não pode sair agora?

Guarde esse azul de céu

Que abraça as estrelas bailarinas

Guarde no seu baú de histórias,

Na sua estante de livros,

Na sua última gaveta

Sem cadeados            

 

Guarde!                        

...


Ilustração: Max Ernst