29 de ago. de 2020

 QUANDO UM POEMA NASCE



                                                                          

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        

       

O poema emerge muitas vezes

Do olhar que acompanha o voo

De um singelo passarinho

Mesmo sem saber

Aonde aquele pequenino ser

De tanto encantamento irá pousar

Pode surgir também do nada       

Da total falta de assunto

Dos temas encobertos de agonia

Das horas de amor e de alegria

Ou da tal vontade de se ver nas palavras

Ou de se esconder no meio delas  

Sem pudor algum

 

Ah, o poema pode estar na lua

De qualquer noite

No sol

De qualquer dia

Na chuva

Na rua

Na cama

Hum...

O poema pode estar sim entre os lençóis

Da forma mais depravada possível

Por que não?  

 

Quando um poema nasce      

Não há festa de comemoração

Não há parabéns

Nem tapinha nas costas

Há silêncios...

É como se algo misterioso fosse desvendado

Mesmo deixando muitas dúvidas

Pairando no ar

Ou nos versos de outro poema

Que já começa a se formar

De novo???

 

Assim a história continua    

Não tem discussão  

O poema impõe sua presença

Desconstruindo a zona de conforto

Adentrando as profundezas do íntimo 

Com o álibi mais que perfeito

Achou pesado?                  

Nem adianta questionar                

Que o poema não precisa de argumentos

Só de sentimentos     

Não importa qual será a personagem

Nem se fará sentido no final  

 

Se um poema deitar na sua rede

Não se apavore

Acorde, respire   

Abra bem os olhos

E receba o que te foi ofertado

Deixe chegar lá no fundo

Mas se preferir pousar lá fora

Acomode-o do mesmo jeito 

Depois de uma boa dose de carinho

Escute como se fosse música

Distribua como se fosse refeição 

Cumpra como se fosse promessa

Reze como se fosse oração.    

 

 ...

Ilustração: Eduardo Kingman

 

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