14 de jun. de 2015

NA PONTA DA LÍNGUA

foto arte: Márcio Jorge
Em novembro de 2014, perdemos o nosso poeta passarinho, que voou distante para encantar outros reinos. Talvez essa seja a definição perfeita para um dos mais criativos poetas da língua portuguesa. Manoel de Barros reconstruiu o sentido da poesia, transformando as insignificâncias em ponte obrigatória para o longo caminhar da reflexão. Inventor das palavras e dos sentimentos profundos, ele era capaz de flutuar na sua mais completa desafetação. Aqui mesmo neste espaço, publiquei um poema em homenagem ao grande escritor das águas, dos matos, das pedras, dos galhos, dos lagartos e das formiguinhas. Para expressar a minha enorme gratidão pela sua obra maravilhosa, o Eco das Nuvens compartilha novamente a  "Ínfima Ode ao Poeta Essencial".   Um beijo Manoel!!! 
  

ÍNFIMA ODE AO POETA ESSENCIAL 
                                          para Manoel de Barros
Mergulho profundo no raso do fundo
No  fundo, no fundo
As insignificâncias levantadas aqui,
Não estão no fundo.

O canto das cigarras está em algum lugar,
No raso?
No fundo?

A goiaba na beira do rio
Faz voar as mariposas,

O raio do sol nascente
Faz chegar os passarinhos,

A formiga no meio do tronco
Faz a paisagem completa,

A falta de assunto
Faz o poeta acordar de sua inexistência.

  Como é bom deitar na rede,
Suspirar de preguiça
Ser a grandeza da poesia ínfima
No fundo, no fundo
Abracemos o mundo!

                                                
                                                       "Palavras
                                          Gosto de brincar com elas
                                                 Tenho preguiça de ser sério."  
                      
                    

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