25 de abr. de 2022

POEMA CONCEBIDO EM RETRATO DE RIO

                                         para Manoel de Barros (mais uma vez)

 

Manoel se deitava

na beira do rio

e se fazia de peixe também.

Pouco a pouco

curiosas formigas

chegavam para vê-lo

com escamas e nadadeiras

na generosa linha d’água

que se movia pelo leito afora.

Passarinhos afinavam seus cantos

e traziam para o encontro

um repertório de melodias sagradas

besouros e joaninhas

já esperavam pela liturgia.

Debaixo da turva onda do rio

a poesia continuava entrelaçando sonhos

e Manoel nadava tranquilo.

 

ESCALADA

 

Em lugar

de lua alta

cantos noturnos

celebram

a escalada.

 

Eu

do topo

da montanha

imaginada

ao sublime

abraço

de uma estrela.


21 de abr. de 2022

FLAGRA

 

Na branca manhã

da paisagem

 

Não pesa a vida

como tanto antes

 

Sigo-me

como folha

lançada ao rio

 

Deslizo-me

em águas doces

 

       num belo dia para existir.      

 

20 de abr. de 2022

IMPULSO

 

Não faltou atear fogo

perder a cabeça

perder os sapatos

perder o tempo

perder as canções

de relaxamento

perder, perder, perder...

 

Abdicou da palavra

que nem sequer chegou

a riscar o horizonte

da ilusão.

 

Há dias

que de repente sabemos

que o cedo

já é tarde demais.