28 de set. de 2008

Paul Cézanne

OBSERVANDO

Na terra
Criou-se a raiz
Surgiu um tronco cascudo
Com folhas, flores e frutos
Quem percebeu?
Será que só eu?

No céu
Juntaram-se as nuvens
Caiu a chuva
Que molhou o terreno esquecido
Onde rola a roda
Pelo leito do rio seco
Quem percebeu?
Será que só eu?


Márcio Jorge


21 de set. de 2008

OH, MINAS GERAIS!
Ontem estive presente em mais um pouso do 14 Bis em Salvador. Fazia tempo que a banda mineira não aterrissava em solo baiano e a nostalgia tomou conta do sempre agradável Teatro Castro Alves. Todos pareciam ansiosos por uma bela apresentação da banda que marcou época nos anos 80 e continua emocionando novas gerações. Com poucas canções novas no roteiro do espetáculo, o show iniciou com a deliciosa música de Milton Nascimento e Fernando Brant Bola de Meia, Bola de Gude e continuou apresentando grandes sucessos como: Todo Azul do Mar, Espanhola, Caçador de Mim, Natural e Canção da América. Um dos momentos mais emocionantes foi quando Cláudio Venturini lembrou o inesquecível Renato Russo, cantando Mais uma Vez e quando interpretou Planeta Sonho, levando o público ao delírio completo. No final do bis, a galera não agüentou ficar nas cadeiras e desceu para perto do palco, onde todos cantaram com a banda o clássico Linda Juventude, encerrando mais um capítulo especial do 14 Bis na Bahia.

Tenho uma identificação forte com Minas Gerais e devo confessar que a música mineira é uma das responsáveis pela formação desse elo, que não sei direito como e quando se originou. Morei 3 meses em BH, mas muito antes já sentia algo diferente pela cultura mineira. Recentemente, em uma das minhas viagens musicais, redescobri uma obra-prima da MPB, o cd CLUBE DA ESQUINA 2, digo redescobri, porque não lembrava como é simplesmente genial esse trabalho, sem dúvida, um dos maiores registros musicais de todos os tempos. Comentei com o meu grande amigo Uber, que por coincidência (ou não), justamente antes do nosso papo, andou cantarolando em casa uma das músicas dos mineirinhos. De Minas posso citar diversos talentos que admiro bastante, mas Milton Nascimento é o que podemos chamar de sublime, ESPETACULAR! Bem, fico a espera de outros grandes momentos musicais como o show do 14 Bis e termino este papo baiano/mineiro com doces palavras do poeta:

“Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou...”
Milton Nascimento

15 de set. de 2008

foto: Stella Alves

CADA OUTRO

Estou só,
Não acordei a lua de sono profundo
Não tirei estrela alguma para dançar
O que faço nessa noite de solidão,
se não despertar para mim mesmo?


Encosto a cabeça num canto qualquer,
Espero a chegada de outros,
Que há tempos não aparecem
para uma visita infinda
Cada outro que sai deste corpo agora,
já trouxe a chave que preciso
As portas , finalmente, são abertas
Deixo cair o manto num gesto delicado
Tantas possibilidades de ser,
é o que emerge dessa “desclausura”.

Ser nuvem, sol, chuva, o gosto agridoce da vida,
Ser galho, fruto, folha, clorofila
Ser a transparência do amor completo,
o retrato idolatrado pelo tempo
Enfim, transformar?
Ser ninho, ovo, asa,
ser somente PASSARINHO.


Márcio Jorge

7 de set. de 2008


MÍSTICO


Sob a noite mansa
Cansa estar sob
Palpitante preguiça de levantar o manto
Nem a cobiça
Por um ínfimo minuto
Vestiu a arrogância
Deixando assim,
Perdida a vontade
Que continua sob...

texto: Márcio Jorge
ilustração: Aldemir Martins