23 de jun. de 2008



MUNDO

Já se conhecia os soldados mucambos,
As balas perdidas,
O extermínio de anjos.

Já se conhecia o corpo blindado,
A chuva ácida,
O escudo queimado.

Sepultada a consciência,
Abrasivo é o alcance da náusea,
O inseto amiúde,
A muleta, a matilha, a muralha...

Já se conhecia o berro do bélico,
A camisa de força,
A hora da síncope.
Deslize, disfarce, desdém?

Calado o silêncio,
Zoeira é furo no feltro,
Hieróglifos em braille,
Uma rosa no asfalto.

Já se conhecia os templos sagrados,
O chão de esgoto,
O fundo do poço.

Já se conhecia as florestas nuas,
A súmula do jogo,
O sumo do boto.
Verdade, suborno, saudade?

Julgada a sentença,
Justa é a lâmina cravada no ócio,
O beijo na íris,
O cheiro, o cio, o sexo...

Já se conhecia o medo,
O transe do trauma,
A guerra, o plágio, o plano...

Trancada a porta,
Resta a lembrança,
A morte jurada,
A vulga esperança.

Já se conhecia o mundo
E o seu dia-a-dia...

Márcio Jorge

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