A PEDRA QUE VIRASTE FLOR
Escrevo na terra
os passos que me levam
ao fogo
Na tua frente
talho madeira
até virar canoa
O rio é a estrada
a pedra que viraste flor
é teu coração em festa
VIAGEM
Uma palavra solta
atravessa o azul da manhã
como quem sai do sonho
para se vestir de ave
Uma palavra presa
reside num corpo sutil
disfarçado de caule
Nada tão belo
como chegar ao céu
pelo toque das gaivotas
RESPOSTA
Pássaro ou gaiola?
Silêncio ou ruído?
Medo ou fúria?
Riso ou tragédia?
Talvez água morna
e um rastro de luz
na janela.
DOMINGO
A tarde de domingo
cai perigosa
na varanda repleta
de poesia
Lá fora
uma árvore acende
seu corpo secular
como pintura marcada
no tempo
Mastigando silêncio
e virando mais um copo
o dia acaba
em versos não escritos